Há quanto tempo um repórter não faz uma pergunta sobre futebol ao Vini Jr.? Quem assistir às entrevistas do craque nos últimos tempos sem saber de quem se trata, vai ter a certeza de que se trata de um ativista que só fala disso. Me lembra quando perguntaram a um jogador por que dão sempre as mesmas respostas. Ele respondeu que é porque as perguntas são sempre as mesmas.
Não é chororô. Vini Jr. tá cansado de falar sobre racismo. Tá triste, desmotivado. Ele não é um Malcolm X, nem um pantera negra. Só queria fazer o que mais ama e que faz muito bem, que é jogar futebol. Mas é obrigado a ser ativista. Porque a cada jogo é xingado de macaco. Porque no caminho pra casa, vê um boneco preto pendurado numa ponte. Porque jogam banana no campo. E depois reclamam que ele só fala disso. E a Liga espanhola, o que ela fala? Melhor, o que ela faz?
Mesmo diante de tudo isso, há quem diga que não existe racismo na Espanha. Outros admitem que tem racismo, mas não racista. Quem são aquelas pessoas nos estádios? E.T.s? Ou torcedor não é gente?
Aqui no Brasil a gente tapa o sol do racismo com a peneira da questão social. Dizem que o preconceito é contra o pobre e como os pretos são pobres, as coisas acabam se confundindo. No caso de Vini Jr. na Espanha não tem essa confusão. Ele é rico, famoso, um dos maiores jogadores em atividade. Aí, o problema se torna outro. Vini Jr. não se conforma em ficar no seu lugar, que é baixar a cabeça e dizer sim senhor. Não sabe fingir que as ofensas não o atingem. Não sabe curtir o seu salário milionário e ficar calado. Isso irrita os racistas e até outros negros que preferem não chamar atenção. E embarcam naquela lógica: “É só não falar do racismo que ele acaba”. Mas até pouco tempo, ninguém falava e ele não acabou, se é que não piorou, se é que não ficou mais explícito.
Vini Jr. fez bem em não se calar. Processou os torcedores racistas e três deles foram condenados e podem ir em cana. O tema virou assunto, o racismo agora está sendo debatido na Espanha. La Liga e o Real Madrid declararam apoio ao craque. Antes eram reticentes. Agora viram como a opinião pública mundial está do lado do Vini Jr.
O racismo não acabou na Espanha com a condenação dos criminosos. Mas acendeu um alerta. A partir de agora, aqueles que pensarem em xingar Vini, Mbappé, Endrick ou Camavinga certamente vão pensar duas vezes.
Ponto para a luta antirracista.
Artigo de autoria de Helio de La Peña